Enquadramento Histórico

O FOGO é um dos elementos da Natureza e um fator intrínseco à existência da vida humana. Daí, assumir um lugar central na história da Madeira e, em particular, de Machico, que começa a sua narrativa com a lenda do fogo da paixão dos ingleses Robert Machim e Ana d`Arfet.

Para além da sua origem vulcânica, o fogo está ligado aos primórdios da humanização da Ilha que, de acordo com alguns autores, teria estado sete anos a arder, de modo a poder iniciar-se o seu povoamento. São histórias que se contam e que romantizam a dureza dos começos.

No fogo, foi encontrada uma fonte de calor que permitiu cozinhar, aquecer e reunir, potenciando a socialização e, por conseguinte, a comunicação. Agregador, o fogo fomentou a partilha de aprendizagens, o aperfeiçoamento de utensílios, de técnicas e de ofícios, bem como a definição de táticas de defesa que, aliás, validam o uso de topónimos como Pico do Facho em toda a Região.

Enquanto luz, com o fogo acometeu-se a escuridão para ir ao encontro da verdade e, deste modo, desmistificar o desconhecido, que tantos receios alimenta. Mas o fogo é também força da Natureza capaz de assumir proporções desmedidas e de nos reduzir, perante a fúria de labaredas que tudo consomem, a meros espetadores impotentes face a um cenário que em tudo se assemelha a um verdadeiro inferno a arder e que nos remete para a imagem de um Juízo Final, onde as más condutas terrenas são cruelmente punidas.

O fogo é luz divina, que guia, protege e alimenta, com maior ou menor expressão, a dimensão espiritual inerente à existência humana e que explica a persistência de celebrações onde as trevas são dissipadas pela luz do fogo. É assim com o fogo de artifício que assinala o início de um novo ano, que se espera próspero, e que tem feito da Madeira o Maior Espetáculo Pirotécnico do Mundo ou, numa dimensão mais local, com a realização de festas religiosas em que o fogo ocupa um lugar de relevo, como as festas em honra do Senhor dos Milagres, com a peculiar procissão de pescadores com archotes, e em honra do Santíssimo Sacramento, com a realização dos fachos, duas festividades que individualizam Machico a nível regional.

Machiquo: Chão de Fogo é o ponto de partida para mais uma viagem pelas vivências coletivas da primeira Capitania do Reino, na qual queremos continua a contar